A prevalência do diabetes tipo 2 em vegetarianos é apenas a metade da prevalência em não-vegetarianos. Estudos randomizados controlados de intervenção em pacientes com diabetes tipo 2 mostraram que com dietas vegetarianas, em comparação com dietas mais convencionais usadas para tratar diabetes, houve maior perda de peso, redução na glicemia plasmática de jejum, maiores efeitos na HbA1c e lipídios em jejum e pós-prandial e redução do uso de medicamentos para diabetes.
Para elucidar estes achados, foi feito um estudo com objetivo de comparar os efeitos das dietas vegetarianas e dietas antidiabéticas convencionais isocalóricas e com restrição de calorias, sobre resistência à insulina, volume de gordura visceral e marcadores plasmáticos de estresse oxidativo após uma fase de intervenção dietética de 3 meses e para testar se as mudanças positivas serão sustentáveis ou até aumentadas após a adição de exercícios aeróbicos por mais 3 meses.
A hipótese era que uma dieta vegetariana seria mais eficaz na redução da resistência à insulina e no volume de gordura visceral e na melhora dos marcadores de estresse oxidativo do que a dieta diabética convencional e haveria um aumento adicional da diferença entre os grupos após a adição de exercícios fisicos. Exercícios físicos reduzem a resistência à insulina através de vários mecanismos: perda preferencial de gordura visceral, estimulação do desenvolvimento muscular, aumento da ação da insulina no músculo esquelético, alterações morfológicas no músculo e melhor controle da produção de glicose hepática.
O estudo randomizado teve duração de 24 semanas e contou com 74 pacientes com diabetes tipo 2 que foram distribuídos aleatoriamente ao grupo experimental (n = 37), que recebeu uma dieta vegetariana, ou o grupo controle (n = 37), que recebeu uma dieta antidiabética convencional. Ambas as dietas foram isocalóricas, com restrição calórica (-500 kcal / dia). Todas as refeições durante o estudo foram fornecidas. As segundas 12 semanas da dieta foram combinadas com o exercício aeróbio. Os participantes foram examinados no inicio, após 12 semanas e 24 semanas.
Os resultados foram:
- 43% dos participantes no grupo experimental (dieta vegetariana) e 5% dos participantes no grupo controle reduziram a medicação para diabetes.
- O peso corporal diminuiu mais no grupo experimental do que no grupo controle: -6,2 kg versus -3,2 kg.
- Um aumento na sensibilidade à insulina foi significativamente maior no grupo experimental do que no grupo controle: 30% versus 20%.
- Uma redução na gordura visceral e subcutânea foi maior no grupo experimental do que no grupo controle.
- A adiponectina plasmática aumentou e a leptina diminuiu no grupo experimental, sem alteração no grupo controle.
- A vitamina C, superóxido dismutase e glutationa reduzida (defesas antioxidantes) aumentaram no grupo experimental.
- O colesterol LDL diminuiu 8% após a intervenção dietética e manteve-se reduzido após o exercício no grupo experimental, enquanto não se alterou no grupo controle.
As diferenças entre os grupos foram maiores após a adição do treinamento físico. Alterações na sensibilidade à insulina e nos marcadores enzimáticos de estresse oxidativo correlacionaram-se com as alterações na gordura visceral.
Dessa forma, o estudo descobriu que uma dieta vegetariana com restrição de calorias aumentou a sensibilidade à insulina, reduziu o volume de gordura visceral e melhorou as concentrações plasmáticas de adipocinas e marcadores de estresse oxidativo mais do que uma dieta convencional em pacientes com diabetes tipo 2 ao longo de 24 semanas. A adição de exercícios físicos aumentou os resultados com a dieta vegetariana.
Vários mecanismos possíveis podem explicar os efeitos benéficos de uma dieta vegetariana:
- Aumento da ingestão de fibras.
- Menor ingestão de gordura saturada (e uma razão ácido graxo poliinsaturado/ ac. graxo saturado maior).
- Maior ingestão de ferro não heme e redução das reservas de ferro.
- Maior ingestão de proteína vegetal em lugar de proteína animal.
- Maior ingestão de antioxidantes e fitoesteróis.
Uma dieta vegetariana foi associada com reduzir as concentrações de gordura dentro das células musculares e isso, juntamente com o efeito sobre a gordura visceral que observamos, pode ser responsável por uma parcela substancial do efeito sobre sensibilidade à insulina e marcadores de estresse oxidativo enzimático.
Os dados sugerem que uma dieta vegetariana leva a uma melhora complexa de marcadores de estresse oxidativo enzimáticos e não enzimáticos. Ambos os mecanismos de defesa antioxidante enzimáticos e não enzimáticos funcionam em sinergia contra diferentes tipos de radicais livres, que desempenham um papel importante no desenvolvimento e progressão da diabetes e suas complicações. As alterações observadas nas concentrações plasmáticas de adipocinas refletem perda de tecido adiposo.
A redução do colesterol LDL observado com a dieta vegetariana está em concordância com estudos anteriores em que as dietas vegetarianas demonstraram reduzir o colesterol LDL e os lipídios pós-prandiais e reverter a progressão da aterosclerose.
Como conclusão, os resultados indicam que uma dieta vegetariana sozinha ou em combinação com o exercício é mais eficaz no aumento da sensibilidade à insulina, reduzindo o volume de gordura visceral e melhorando as concentrações plasmáticas de adipocinas e marcadores de estresse oxidativo do que uma dieta antidiabética convencional com ou sem adição de exercício. As dietas vegetarianas podem fornecer uma alternativa benéfica para a terapia nutricional no diabetes tipo 2, especialmente em combinação com o exercício aeróbio. Outros estudos devem explorar os mecanismos precisos e os efeitos a longo prazo das dietas vegetarianas em pacientes com diabetes tipo 2.
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